Turismo Indígena nas Américas – boas práticas e recomendações

A Organização Mundial do Turismo das Nações Unidas (UNWTO), em parceria com a Aliança Mundial do Turismo Indígena (WINTA), compilou 9 experiências que inspiram boas práticas para o desenvolvimento responsável do Turismo Indígena nas Américas. Apresentamos aqui um resumo traduzido da publicação – disponível apenas em espanhol e inglês.

Conteúdo

A publicação pode ser acessada gratuitamente neste link.


Temas dos Estudos

Os estudos de caso estão organizados em quatro grandes temas:

SENSIBILIZAÇÃO CULTURAL, EDUCAÇÃO E DIÁLOGO
Vários governos têm respondido à realidade dos povos indígenas dentro de seus países. Aqui se aplica o princípio da escuta e do diálogo, compreendendo a importância de envolver pessoas indígenas em todos os processos relacionados ao turismo em suas comunidades, que dizem respeito às suas vidas e bem-estar. Nesta seção, são discutidas as diferentes abordagens adotadas pelas administrações nacionais de turismo do Chile, Colômbia e Peru para enfrentar o desenvolvimento do turismo que envolve povos indígenas. Em seguida, são apresentados os casos da Argentina, Brasil e dos Estados Unidos da América, que lidam com questões diferentes de sensibilização e capacitação, com implicações geográficas distintas, mas com objetivos comuns.

LIDERANÇA E MOVIMENTOS ASSOCIATIVOS
Em relação às formas, a liderança indígena pode se manifestar através de títulos oficiais de acordo com as leis indígenas, conselhos territoriais ou associações nas quais pessoas são eleitas para liderar o desenvolvimento comunitário, inclusive no âmbito do turismo. Esta seção apresenta diferentes exemplos de associações nacionais impulsionadas no Canadá, Chile, Equador e México, com várias características em comum.

EMPODERAMENTO ATRAVÉS DA CULTURA, EMPREENDEDORISMO E DESENVOLVIMENTO DE EXPERIÊNCIAS
As comunidades indígenas recebem um importante legado cultural de geração em geração, muitas vezes, por ser imaterial, não documentado. O setor turístico pode ser um grande aliado na transmissão desse legado, juntamente com instituições e especialistas competentes. Nesse processo, o turismo pode atuar como receptor e amplificador de conhecimentos e tradições, criando empregos para guias locais na tarefa de explicar e transmitir suas tradições culturais, enquadradas em sua própria cosmovisão e valores coletivos. Esta seção da publicação descreve exemplos de empoderamento indígena através da cultura, empreendedorismo e experiências turísticas, provenientes da Bolívia, Brasil, Colômbia, México e Peru.

GOVERNANÇA E EXPERIÊNCIAS TURÍSTICAS EM ÁREAS PROTEGIDAS
No caso de espaços protegidos ou práticas culturais de valor excepcional, surge a problemática da gestão sustentável quando se trata de um parque ou uma reserva nacional onde vivem comunidades indígenas em seus territórios ancestrais e quando estes coincidem com os espaços protegidos. Esta seção destaca boas práticas de abordagens diferentes para gerenciar o turismo indígena em espaços protegidos. Os exemplos variam desde a Ilha de Páscoa no Chile até a Comarca de Kuna Yala no Panamá, onde as comunidades indígenas têm exclusividade no desenvolvimento do turismo indígena em seus territórios. Também inclui exemplos do Canadá e da Colômbia, cuja gestão tem outras características, próprias de seus respectivos territórios.

Imagem da experiência compartilhada no estudo de caso #4


Recomendações

Dinâmicas e soluções prioritárias para serem trabalhadas
  1. Intercâmbio cultural entre visitantes e membros das comunidades indígenas.
  2. Diálogo intercultural e treinamento como instrumentos para o empreendedorismo no turismo indígena.
  3. Políticas públicas que geram impacto nas comunidades indígenas e na oferta turística.
  4. Formas de organização e movimentos associativos para promover a liderança dos povos indígenas.
  5. Experiências turísticas a serviço da preservação do conhecimento ancestral e do patrimônio imaterial.
  6. Design de experiências turísticas em harmonia com o plano de vida das comunidades.
  7. Produtos competitivos do turismo indígena com base em uma distribuição melhorada de benefícios e investimentos.
  8. Habilidades comerciais e digitais para promover uma cadeia de valor mais inclusiva e diversificada.
  9. Empoderamento socioeconômico de mulheres e jovens por meio do turismo indígena.
  10. Administração e modelos de governança do turismo indígena em espaços protegidos.
Recomendações específicas para as administrações públicas

Segundo o Fórum Permanente das Nações Unidas para Assuntos Indígenas, o papel dos Estados é crucial na adoção de legislação e regulamentação necessárias e na implementação de instrumentos que garantam a não discriminação, a proteção dos direitos, territórios e recursos indígenas, bem como a inclusão socioeconômica e participação política das pessoas indígenas. É importante que as autoridades públicas reconheçam os modelos de governança próprios dos povos indígenas e obtenham seu consentimento livre e informado em relação a qualquer processo que afete o desenvolvimento turístico ou suas vidas de forma geral.

    PLANEJAMENTO E MODELOS DE GOVERNANÇA
  1. Apoio aos processos de planejamento
  2. Adoção de políticas e diretrizes para o desenvolvimento turístico sustentável e responsável
  3. Estabelecimento de modelos de governança do turismo indígena
  4. Adaptações dos processos de formalização das operações turísticas, relacionados à infraestrutura

  5. INVESTIGAÇÃO
  6. Criação de informações e conhecimento sobre o turismo indígena e seus impactos positivos e negativos
  7. Desenvolvimento de sistemas estatísticos
  8. Registro, recuperação e salvaguarda de expressões culturais por meio do turismo
  9. Adoção de marcos legais e/ou regulamentações específicas

  10. INVESTIMENTO E FINANCIAMENTO
  11. Prestação de apoio financeiro público-privado para iniciar, melhorar ou expandir a escala de um empreendimento turístico
  12. Regulamentação de fontes de financiamento para negócios indígenas e comunitários
  13. Investimento público ou parcerias público-privadas para melhorar serviços básicos
  14. Investimento em conectividade para criar ligações entre empreendedores, prestadores de serviços e clientes
  15. Melhorias na infraestrutura e na cadeia de valor

  16. CAPACITAÇÃO
  17. Apoio aos processos de capacitação para alcançar a qualidade de produtos, experiências e serviços
  18. Continuidade e progressão na assimilação dos conhecimentos e habilidades adquiridos pelos participantes
  19. Foco especial no marketing do turismo indígena
  20. Empoderamento

  21. DESENVOLVIMENTO DE EXPERIÊNCIAS TURÍSTICAS, MARKETING E COMERCIALIZAÇÃO
  22. Estabelecimento de Grupos de Trabalho
  23. Desenho dos planos de marketing no contexto do turismo indígena
  24. Desenvolvimento de metodologias que permitam preparar as experiências para o mercado
  25. Apoio aos processos de comercialização por meio de operadores turísticos nacionais e internacionais
  26. Promoção de comportamentos responsáveis
  27. Promoção de redes intercomunitárias em nível nacional
  28. Educação e informação sobre as culturas indígenas em nível nacional


Ao final, a publicação também apresenta Dicas para turistas ao praticar o turismo indígena.

Imagem da experiência compartilhada no estudo de caso #2


Conclusões

Os desafios mais urgentes a serem superados para melhorar o planejamento, desenvolvimento, gestão e promoção do turismo indígena nas Américas:
 
  • O respeito e o diálogo estabelecem as bases do turismo indígena:
   
    • O turismo indígena é uma forma distinta de turismo em que os povos indígenas estão diretamente envolvidos, seja no controle ou ao fazer de sua cultura o ponto central da atração.
    • Cada projeto de turismo indígena requer definição de objetivos comunitários, respeitando variações contextuais e acordos locais.
    • O respeito aos direitos dos povos indígenas é fundamental, e eles devem liderar e ser protagonistas de suas atividades turísticas, com negociações justas.
    • A planificação do turismo indígena deve considerar o respeito aos territórios ancestrais e suas práticas tradicionais.
    • Empresas e instituições públicas devem respeitar líderes indígenas e compreender as aspirações das comunidades em relação à autonomia econômica.
   
  • A cultura retroalimenta a identidade comunitária e nutre as experiências do turismo responsável:
   
    • O turismo indígena pode ser benéfico quando praticado com respeito, melhorando a economia das comunidades.
    • Ele contribui para a recuperação cultural, conservação ambiental e proporciona uma experiência única para os visitantes.
    • Há necessidade de aprimorar habilidades comerciais e digitais e obter apoio para fortalecer redes de cooperação.
    • Guias indígenas desempenham um papel crucial na promoção de uma experiência participativa e na transmissão de conhecimento.
   
  • A capacitação fortalece as habilidades comunitárias e torna possível a comercialização das experiências:
   
    • A interculturalidade na formação de profissionais de turismo é desafiadora, mas essencial para promover a troca de conhecimento.
    • O treinamento em turismo capacita comunidades a identificar seu público-alvo e tornar seus produtos comerciáveis.
    • Formação profissional é fundamental para atender às expectativas dos clientes.
    • Adquirir competências em turismo, combinadas com o conhecimento indígena, cria experiências autênticas e sustentáveis que valorizam a cultura indígena.
   
  • Empreendimentos turísticos liderados pelos povos indígenas trazem benefícios comunitários duradouros:
   
    • Comunidades que desejam empreendimentos turísticos precisam de habilidades de negociação, planejamento e promoção que permitam inovação sem sacrificar os valores culturais.
    • Atrair turistas nacionais fortalece empreendimentos contra choques econômicos globais.
    • Muitos empreendimentos fracassam devido à falta de habilidades comerciais e incompreensão de terceiros sobre a cultura indígena e organização comunitária.
    • A pandemia afetou os operadores de turismo indígena, destacando a necessidade de um ambiente favorável para operações seguras. Movimentos associativos e cooperativismo aprimoram a articulação de demandas.
   
  • Os problemas no desenvolvimento do turismo indígena, tanto antes como após a pandemia, são questões subjacentes:
   
    • Falta de conectividade e serviços de transporte são desafios para as comunidades indígenas, dificultando a manutenção de fluxos turísticos regulares.
    • Governos devem propor medidas de apoio ao turismo indígena, envolvendo as comunidades na cadeia de valor e financiando infraestrutura e comercialização de experiências.
    • O turismo indígena cria empregos comunitários, mas requer perfis profissionais diversificados, especialmente para empreendimentos liderados por mulheres e jovens.
    • Sensibilização e diálogo são fundamentais na governança de áreas protegidas, onde modelos de gestão, entidades responsáveis, empoderamento indígena e comportamento dos visitantes evoluíram.

Imagem da experiência compartilhada no estudo de caso #8


Estudos de Caso


SAIBA UM POUCO MAIS SOBRE OS 9 ESTUDOS DE CASO INSPIRADORES DE BOAS PRÁTICAS PARA O TURISMO INDÍGENA!

ESTUDO DE CASO #1
AVANÇOS NAS POLÍTICAS PARA O TURISMO INDÍGENA NA AMÉRICA DO SUL


Apresenta e analisa normas e políticas de desenvolvimento comunitário importantes para o turismo indígena em países da América Latina. Chile, Peru e Colômbia possuem um histórico de apoio às comunidades indígenas por meio do Turismo Rural desde 1990, além de estratégias para o Turismo Comunitário e o reconhecimento e inclusão do Turismo Indígena a partir de 2012. Mais recentemente, entre os anos de 2017 e 2022 foram criadas por suas lideranças organizações nacionais de turismo indígena. Foram facilitados Encontros Nacionais de Turismo Comunitário como um espaço de treinamento, diálogo e troca de experiências. Nestes encontros, as comunidades se reúnem e promovem a aprendizagem para os empreendedores e a diversificação da oferta turística.

ESTUDO DE CASO #2
EDUCAÇÃO INDÍGENA INTERCULTURAL NAS AMÉRICAS


A Argentina possui a experiência de cursos especializados de formação em turismo comunitário e indígena. O Instituto Superior de Turismo Comunitário Indígena Raúl Karai Correa, criado no âmbito do projeto Mate (Modelo de Autogestão para Turismo e Emprego), fortalece a capacidade de trabalho das comunidades indígenas próximas às Cataratas do Iguaçu. O objetivo é desenvolver habilidades para oferecer uma experiência de vivência que permita conhecer e apoiar empreendimentos liderados pelas pessoas indígenas.

Em outra parte da América do Sul, a cultura Paiterey da região amazônica no Brasil criou o Centro Cultural Indígena Paiter Wagôh Pakob, inaugurado em 2016 pelo geógrafo e turismólogo indígena Gasodá Suruí, juntamente com a comunidade da Aldeia Paiter. O centro é um espaço de acolhimento e convivência destinado à preservação, valorização e fortalecimento cultural. As visitas contribuem para resgatar e adaptar conhecimentos tradicionais e valorizar as práticas culturais associadas à natureza. Na informação transmitida aos visitantes, a comunidade explica as razões pelas quais considera sua cultura como patrimônio coletivo de todo o povo, indispensável para suas vidas e sua sobrevivência.

A Associação de Turismo Indígena Americano e Nativo do Alasca – AINTA, opera desde 1998, reunindo empreendedores indígenas dos Estados Unidos da América. Além disso, oferece treinamento, organiza webinars, realiza palestras em municípios e conferências anuais, fornecendo ferramentas aos seus membros para fortalecer sua oferta e gestão do turismo indígena. A AIANTA estabeleceu parcerias com agências federais que administram os recursos de parques nacionais e o uso da terra.

ESTUDO DE CASO #3
ORGANIZAÇÕES COMUNITÁRIAS LIDERAM A GOVERNANÇA DO TURISMO INDÍGENA NO CANADÁ


A Associação de Turismo Indígena do Canadá (Indigenous Tourism Association of Canada – ITAC) foi criada em 2015 como resultado de anos de conversas entre líderes do turismo indígena. A ITAC estabelece parcerias entre associações e organizações indígenas, agências governamentais e líderes da indústria, com o objetivo de apoiar o crescimento do turismo indígena e enfrentar a crescente demanda pelo desenvolvimento e marketing de experiências autênticas e enriquecedoras.

ESTUDO DE CASO #4
ORGANIZAÇÕES COMUNITÁRIAS LIDERAM A GOVERNANÇA DO TURISMO INDÍGENA EXEMPLOS DO CHILE, DO EQUADOR E DO MÉXICO


A Rede Indígena de Turismo do México, A.C. – RITA, fundada em 2002, é composta por mais de 100 organizações de 19 povos indígenas. Através do turismo, buscam a revalorização cultural, a utilização e conservação da biodiversidade, bem como o exercício de seus direitos nas políticas públicas. A RITA consolida o trabalho de suas redes locais, que integram a oferta dispersa e promovem o desenvolvimento de seu capital humano, social e ambiental, profissionalizando os serviços prestados por seus associados.

No Equador, a Federação Plurinacional de Turismo Comunitário do Equador – FEPTC, foi fundada em 2001 com a Declaração de Otavalo e, em 2002, obteve o reconhecimento do governo equatoriano como pessoa jurídica através do Ministério do Turismo. A FEPTCE também conseguiu que o turismo comunitário fosse reconhecido como um modelo de gestão pela Lei de Turismo do Equador desde 2008. Desde 2010, existe um regulamento que permite o registro de Centros de Turismo Comunitário, fornecendo um quadro e personalidade jurídica perante o Estado, bem como critérios técnicos para operar de forma profissional.

Apesar de ter sido fundada recentemente em 2017, a Associação de Turismo Indígena do Chile – ANTI, já foi convocada pela Subsecretaria de Turismo para participar da Mesa Nacional de Turismo Indígena. Isso permitiu a integração da perspectiva indígena no desenvolvimento da indústria e abriu portas para projetos de grande relevância. Refletindo este segundo cenário, no Chile também foi criada a Sociedade de Turismo Mapuche A.G. com a ideia de posicionar sua própria filosofia e forma de fazer turismo dentro de seus territórios e eliminar conceitos que não os representavam, como turismo aborígene, turismo étnico, turismo de interesses especiais e até mesmo o próprio conceito de turismo indígena.

ESTUDO DE CASO #5
OS POVOS INDÍGENAS APROVEITAM O POTENCIAL DO TURISMO PARA A TRANSMISSÃO CULTURAL COMUNITÁRIA


A Terra dos Yachaqs (sábios) reúne oito ayllus (comunidades) no Vale Sagrado de Cuzco, em uma organização autônoma administrada 100% pelas comunidades. Esse modelo garante a distribuição equitativa dos benefícios do turismo com base em princípios e valores como a ajuda mútua, a honestidade, o trabalho em equipe, o respeito às pessoas, ao meio ambiente e à comunidade, bem como a comunicação assertiva. A aliança associativa das oito comunidades permite progredir de forma organizada e obter benefícios mais significativos.

ESTUDO DE CASO #6
AS ASSOCIAÇÕES DE BASE AVANÇAM COMO OPERADORES TURÍSTICOS DOS EMPREENDIMENTOS COMUNITÁRIOS INDÍGENAS


Empreendedorismo turístico indígena líder na região de Santa Marta, Colômbia, Wiwa Tours opera desde 2008 sob os princípios do turismo responsável, da cultura Wiwa, de suas crenças e costumes. Este povo vive em harmonia com a mãe terra há séculos, portanto, é essencial incentivar os viajantes a proteger seus recursos. A Wiwa Tours segue diretrizes e códigos de conduta para locais que são cultural ou historicamente sensíveis. A empresa utiliza a arte, a arquitetura ou o patrimônio local em suas operações (design, decoração, alimentos ou lojas) respeitando a propriedade intelectual. A satisfação do cliente é medida por meio de questionários específicos e são implementadas medidas de melhoria.

No caso da Bolívia, as comunidades indígenas detêm uma grande riqueza patrimonial, mas as políticas públicas não oferecem o apoio necessário para aproveitar esse recurso para o desenvolvimento. São as próprias comunidades que empreendem, transformando o turismo em um complemento de suas atividades produtivas. A Rede Tusoco, organizada e criada pelos Empreendimentos Turísticos Solidários Comunitários (ETSC), implementa projetos para desenvolver e fortalecer a organização e a autogestão dos ETSC, complementando-os com treinamento focado na prestação de serviços de qualidade.

ESTUDO DE CASO #7
COMO O TURISMO INDÍGENA VALORIZA E RECUPERA OS MODOS TRADICIONAIS DE VIDA


Neste caso de estudo, é apresentado um exemplo da Amazônia no Brasil que, além de expandir o mercado de produtos agrícolas, também contribui para a autoestima e a preservação cultural comunitária. A Associação das Comunidades Indígenas e Ribeirinhas (ACIR) e a ONG Garupa apoiaram as comunidades no desenvolvimento do turismo. O turismo é uma fonte de renda, fortalece a autoestima e valoriza a cultura indígena, além de combater ameaças como mineração, caça, pesca ilegal e desmatamento. Oficinas foram iniciadas em 2016 para estruturar o turismo, logo após a FUNAI estabelecer diretrizes em 2015 (IN 3).
O Projeto de Turismo Indígena Serras Guerreiras de Tapuruquara oferece itinerários com práticas culturais e experiências amazônicas conduzidas por povos indígenas:
  • Foco em conhecimentos tradicionais relacionados à alimentação e ao território e geração de renda a partir dos modos de vida indígenas.
  • Visitantes exploram a cultura e a conexão com o território, promovendo um intercâmbio de conhecimentos.
  • Resultados financeiros do turismo beneficiam a comunidade, sendo divididos entre investimentos coletivos e pagamento de serviços.
  • Envolvimento significativo das mulheres, que contribuem com a venda de artesanato e produtos agrícolas para benefícios econômicos adicionais.
Resultados de impacto:
  • Recuperação de cultivos tradicionais envolvendo os jovens. O sistema agrícola do Rio Negro é reconhecido pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) como patrimônio imaterial.
  • Realização de feiras agrícolas com o excedente da produção que não foi consumido pelo turismo e integração dos produtos agrícolas na alimentação escolar.
  • Aumento da autoestima e valorização dos modos de vida. Fortalecimento da governança por meio do processo de estruturação do turismo, com recursos autônomos para a gestão do território

ESTUDO DE CASO #8
GESTÃO INDÍGENA DOS TERRITÓRIOS PROTEGIDOS E DE SUA OFERTA TURÍSTICA


Esta iniciativa pioneira foi lançada em 2000 com o objetivo de estabelecer regulamentos, princípios e normas básicas para as atividades turísticas na Comarca Kuna Yala, que em sua maior parte coincide com a Reserva Kuna Yala. O projeto é baseado no respeito aos valores socioculturais, políticos, econômicos, espirituais e nas tradições do povo indígena Kuna. Os Kunas desenvolvem e lideram a gestão de empreendimentos turísticos, como sociedades, cooperativas, pousadas ou serviços de guias locais. Cerca de 100 pessoas, entre guias e empresas que oferecem serviços turísticos, estão devidamente credenciadas pelo Congresso Geral.

Um caso muito interessante é a grande conquista do Povo Rapa Nui (da ilha anteriormente conhecida como a Ilha de Páscoa) na administração do Parque Nacional Rapa Nui (PNRN), que abrange grande parte do território insular. Através de um processo de diálogo com o governo do Chile e uma avaliação das demandas do povo Rapa Nui, em 2016, foi possível avançar para a transferência da administração do uso público do Parque para o Povo Rapa Nui.

ESTUDO DE CASO #9
MODELOS DE GOVERNANÇA QUE ENVOLVEM MÚLTIPLOS ATORES


Na América do Norte, o Canadá possui várias localidades com proteção do patrimônio da cultura indígena, envolvendo vários níveis de gestão e administração de recursos. Um deles é o sítio de Patrimônio Mundial da UNESCO Áísínai’pi, um local sagrado onde o povo indígena Niitsítapi – Blackfoot (pés negros) celebra sua relação com a terra, seus ancestrais e seres sagrados por meio de suas cerimônias ancestrais. Após quatro décadas de relacionamento frutífero entre o Alberta Parks e um grupo de sábios indígenas, foi iniciado um processo para proteger a paisagem cultural, promover um desenvolvimento de turismo responsável e uma transmissão cultural mais apropriada.

No caso do Parque Nacional Amacayacu na Amazônia colombiana, o ecoturismo tem sido promovido como estratégia de conservação há 35 anos. O centro de visitantes do Parque Nacional foi criado para combater o tráfico de drogas, oferecendo serviços ecoturísticos operados pelas comunidades indígenas. Devido a uma grande inundação, o centro de visitantes foi fechado em 2012, e as comunidades e a área protegida começaram a construir acordos formais para proteger as terras ancestrais do Povo Ticuna. Posteriormente, em 2016, a Secretaria de Ecoturismo começou a ser estabelecida em duas comunidades, como apoio às autoridades tradicionais e servindo como ligação com o quadro regulatório nacional do turismo.