Quais os riscos do turismo e quais cuidados devem ser tomados?

A possibilidade de levar pessoas desconhecidas e não indígenas para dentro do território pode representar riscos, perigos ou preocupações para as comunidades. Alguns exemplos são a entrada e o uso de bebida alcoólica ou drogas no território, o que é proibido por lei, o desrespeito às regras e costumes da aldeia, fotos sem autorização, entre outros. Além disso, se a comunidade não estiver unida, organizada e cuidando para que as decisões sobre o turismo aconteçam de forma coletiva, pode haver insegurança e até mesmo brigas internas entre as famílias. Cada povo ou comunidade deve avaliar quais são as vantagens e oportunidades de fazer turismo e quais são os riscos. Com um bom planejamento e organização, os perigos podem ser diminuídos ou evitados. Tudo deve ser bem discutido e conversado com todas as pessoas envolvidas, inclusive as que não desejam participar diretamente da atividade de visitação mas que moram na Terra Indígena, pois podem ser afetadas, tanto negativa como positivamente. Por isso a importância de todos e todas estarem informados e participando dos momentos de decisões.
Ilustrações da cartilha elaborada no âmbito da parceria entre TNC, Iepé e Garupa para apoiar o desenvolvimento do TBC nas TIs do Oiapoque
Inclusive, ao pensar em desenvolver uma iniciativa de TBC, é essencial trazer para a conversa as pessoas que já estão trabalhando com o tema, mesmo que de maneira individual, para esclarecer que a visitação em territórios e com
Tem muita coisa para a comunidade pensar e organizar antes de decidir receber turistas! O primeiro passo seria discutir quais são as preocupações da comunidade em relação ao turismo, antecipando o que pode acontecer. Em alguns casos, a comunidade coletivamente pode chegar à conclusão de que talvez o turismo não seja uma atividade para ela, e não há problema nisso. A palavra final é da comunidade. Nem toda comunidade ou povo quer trabalhar com a recepção de visitantes, e nem toda TI tem potencial para desenvolver o turismo, assim como o turismo não necessariamente é uma ferramenta interessante em todos os contextos.

Existem diversas motivações para que alguns povos ou comunidades queiram realizar o turismo. Alguns querem iniciar o turismo como uma alternativa para geração de renda, ou como forma de valorizar e divulgar sua cultura e as belezas naturais de seu território. Outras já recebem ou já realizam algum tipo de turismo, mas gostariam de ter maior controle sobre a atividade ou mesmo se preparar para oferecer experiências mais bem organizadas e que possam gerar melhores resultados. Em outros casos, existe uma pressão de fora da TI para se realizar turismo nessas áreas. A forma como a visitação é organizada é também uma maneira de selecionar qual o perfil de turista que a comunidade quer receber, pois a proposta da experiência, como ela é conduzida e as regras para poder participar já atraem determinados perfis de pessoas. Às vezes a comunidade tem receio de perder o visitante por exigir documentação, informações na inscrição ou mesmo por dizer “não”, e restringir o que o turista pode fazer ou onde ele pode ir. Mas esta é a forma de ter o controle da visitação e, também, de buscar se conectar com pessoas que estão alinhadas com a proposta da comunidade e, assim, garantir o respeito às decisões coletivas e a segurança das comunidades e do território.
No caso do turismo de pesca esportiva, por exemplo, o perfil do visitante é diferente. Isso porque o objetivo é a pescaria, muitas vezes sendo realizada sem contato com a comunidade, mas conduzida por suas lideranças, nos locais manejados para o turismo. Por conta da preservação, algumas áreas indígenas têm muito potencial para a atividade. Ao mesmo tempo, os custos para realizar uma atividade segura são altos: precisa ter vigilância, monitoramento e muitas capacitações, o que torna as despesas do roteiro mais caras e, assim, um preço final que não é qualquer visitante que pode pagar. A maior parte dos atuais visitantes de pesca esportiva nas TIs do Rio Negro são profissionais autônomos, aposentados, com mais de 60 anos e estrangeiros.
As iniciativas de turismo indígena estão buscando aprimorar suas capacidades e estabelecer parcerias para comercializar e dar fôlego aos seus empreendimentos. O Turismo Indígena configura uma cadeia de serviços da sociobiodiversidade que ainda não possui a visibilidade e reconhecimento como tal. Esse ecossistema que ainda está em formação, envolve essa diversidade de atores e, por isso, ainda demanda formações e alinhamentos importantes para que não apenas as comunidades, mas também os gestores públicos, os parceiros técnicos e as empresas compreendam os aspectos que precisam considerar para que o roteiro seja não apenas sustentável, como também viável ao longo do tempo!